Archive for 2012

Livre arbítrio


.

Liberdade de escolha foi algo que passei a respeitar desde bem cedo. A partir do momento que aprendi a andar sob as minhas próprias pernas percebi que tudo o que chegaria até mim seriam consequencias unicamente de meus atos e mais ninguém além de mim poderia arcar com elas. É por esse motivo que nada do que faço é desprovido de um pesar. Analiso muito bem onde piso sem precisar de repressões ou puxões de orelha. Sou articulada o suficiente pra romper com os "fios de nylon" que a sociedade insiste em prender em nossas mãos e pés, tornando-nos marionetes. E assim vou traçando minha vida, conciliando responsabilidades e momentos voltados ao que gosto de fazer. E os gostos particulares são tão diferentes, não é?! Exercer essas distinções sem temores diante dos olhares sociais é o que se convencionou chamar de "liberdade". Eu optei por entrar ou não em uma universidade; eu optei por um curso; eu optei por levar a sério ou não esse curso; eu optei pelas minhas companhias; eu optei por namorar ou não; eu optei por alguns estilos musicais; eu optei me especializar em alguma vertente artística; eu optei por me especializar em alguma vertente acadêmica; eu optei por integrar ou não um grupo voluntário; eu optei por ter ou não uma religião; eu optei por gostar ou não de futebol; eu optei por ser ou não vegetariana; eu optei por ir à balada ou reunir poucos amigos pra tocar violão; eu optei por morar fora ou não; eu optei pelas minhas crenças; eu optei pelas minhas roupas; eu optei por alguns posicionamentos políticos; eu optei por algumas viagens; eu optei por comprar livros ou joias; eu optei por dançar balé ou funk; eu optei pelo respeito ou desrespeito à vida alheia; eu optei por uma peça de teatro ou uma festa rave. Cada escolha implica uma renúncia. Todos os dias somos bombardeados de opções que só dizem respeito a nós mesmos. Opiniões são sempre muitíssimo bem vindas, desde que desprovidas de preconceitos ou apontamentos e, certamente, a partir do momento em que o outro se dispõe a compreender e aceitar um mundo distinto do que vive. Tenho sérios problemas com julgamentos alheios, bem como com qualquer tipo de imposição. Em contrapartida, também admito que não é difícil me ofender quanto a isso: basta uma riso em tom de escárnio pra me deixar arisca e querer defender meu espaço. E, pois é, pra alguém que vive em um campus de HUMANAS, pesquisa escravidão, faz teatro e respira MPB, não poderia ser diferente mesmo. Minha percepção com indiretas é extremamente aguçada. O mundo é plural e a intolerância com as escolhas alheias em pleno século XXI é puro retrocesso!

Karina Moraes
19/11/2012
 

Revisão


.



Refletir os restos e os reflexos, a falta de retorno e o recurvar dos discursos; ressignificar a nostalgia, resumir em retratos. Reaver-se e retratar-se das próprias rendições e retrocessos. Reavaliar os verbos, os rumos remediados, os risos sem razão, a vida em recesso, os receios e os recalques; relegar as reles palavras rebuscadas e as ruínas poéticas; revisitar refúgios. Redescobrir relicários; remendar os retalhos; arrumar as redes, rearranjar os remos e os roteiros; revigorar-se sem ressalvas. Rememorar a beleza rouca; brindar reminiscências e as recônditas amenidades da alma. Auto retificar-se das irrequietudes refutáveis.

Karina Moraes
03/11/2012

Sou soma


.


Cada reminiscência emoldura um momento, desenhando fotografias que nos compõem. Apercebemo-nos mais de nós mesmos ao olhar pro espelho e permitirmos enxergar nosso reflexo através dos retratos de ontem, entendermo-nos como a consequência de nossos próprios curtas e longas metragens. Constitui-nos mais as características agregadas que as genéticas. Constitui-nos as músicas que ouvimos e seus intérpretes de chuveiro, os passos de dança não ensaiados e os atores sem seleção de currículo, os que dividem palco com nossos personagens, criados não intencionalmente. Somos nossas fomes da alma. Constitui-nos mais os rascunhos de nossas poesias que o produto final delas, já lapidado. Somos mais que os contornos invertidos e móveis que enxergamos no espelho. Do passado, incrusta-se na bagagem o saudoso, o vil e o indiferente. Somos os vestígios do ontem, resultado de resultados.

Karina Moraes
02/11/2012

Entrelinhas


.


É que na escrita o encontro se sela mais fidedignamente que qualquer oralidade. Reconheço o outro muito mais pela subjetividade de seus registros aleatórios que por quaisquer definições pré estabelecidas. Da mesma forma, entrego-me mais pelo mesmo caminho. Radiografando um eu, autêntico, pela escrita. Por mais desconexas que estejam palavras e ideias. Quando leio o que o outro escreve, depreendo muito de sua alma e menos do que diz o texto em si. Talvez seja por isso que tanto gosto daqueles que escrevem: por me permitir leituras da alma! Aliás... ora, se a escrita não é o transbordar de si mesmo, o que seria?! Meus queridos autores cotidianos, eu os admiro e, talvez demasiadamente piegas, por vezes os amo também!


Karina Moraes
23/10/2012

Passional


.

De certo que paixão acontece no plural! Veio ter comigo algumas repentinas vezes por aí... dessas de muito fogo e pouca lenha. De dar borboletas no estômago e deixar a alma afônica. Alguns ousaram me corrigir dizendo ser sintoma de amor. Digo que não! Nego-me a crer ter amado tantas vezes quanto me apaixonei! Ai, ai... pois pena dos que não vivem paixões plurais e vendavais...!


Karina Moraes
22/10/2012

...


.


O acerto pode ser total culpa do erro! Assim: por um deslize bobo, erra-se o alvo, mas o foco se torna melhor. Há sentimento que acontece indefinido e se torna intrigante por assim ser, incerto e até descrente, por apercebermo-nos dele demasiadamente precoce. O tempo todo estamos lidando com estímulos diferentes que, de alguma forma, transformam mente e coração, todos os dias. Mudamos conceitos, mudamos a forma de pensar, de sentir, de ouvir e de aceitar novas fases e novas pessoas em nossas vidas. Nós determinamos se é válido permitir que entrem e permaneçam conosco, se assim houver reciprocidade no acolhimento. Algumas assumirão papel distinto das demais e, de repente, uma em específico, se destacará em meio a um turbilhão de pensamentos que o habitam diariamente. Então, você passará a carregá-la onde quer que vá, mesmo que distante pelas circunstâncias. Cada reencontro revelará o quanto os ponteiros do relógio podem ser cruéis. Cada discussão mostrará o quanto será importante o exercício da tolerância, e cada diferença nos fará amadurecer para somar. Deixar que alguém entre em sua vida, é tarefa fácil. Difícil é permanecer! Mas, se por ambos a permissão é dada, cabe então fazer valer a pena!

Karina Moraes
02/08/2012

Breve roteiro.


.


No primeiro momento, impulso. No segundo, quis querer. No terceiro, quis. No momento posterior... o posterior não aconteceu.

As palavras coreografaram-se em ritmos e momentos desordenados, contrariando os tantos ensaios anteriores. A curta trajetória confirmou-se nada inteligente, desde o início. O autocontrole dissolveu-se em álcool... e o que o sono pausou, amanheceu embrulhado em papéis de ressaca moral. O vento litorâneo lhe faria despir dos sintomas de embriaguez psicológica, poetizando o “dramalhão gratuito” de um curta-metragem que, por ora, engavetou-se.
Karina Moraes
10/07/2012


.


O caber infinito do abraço, onde o diálogo se revela além das palavras. Onde o ombro se faz porto, moradia instantânea pra acalentar inseguranças. 

As palavras ressoam sem voz, feito orações particulares. O fechar de olhos faz retrospectivas, e filmes inteiros se dispõem no contato, na recepção do que é dito calado. Momentos diversos, tantos, que se encontram num fugaz instante. Adormece inquietudes, faz-se leito, refúgio, fortaleza, divã. Confidências no respirar. Mesmo que não intencionais. Dissolver de consternações. Antídoto. Afirmação do querer bem: Confirmação de benevolência! O abraço é o lugar para a reclusão das marcas do mundo lá fora.  Mais que isso: é o despir do turbulento mundo que existe dentro de si.  É o recolher do cansaço, e é o esquecer de se estar cansado do cansaço.   É levar um pouco do outro, e deixar muito de si! Revelar, ansear decifrar. É troca! E a garantia de reciprocidade será reconhecida na percepção e assegurada no confiar.

29/06/2012

Quebra-cabeça


.


Percebo me sentir mais próxima da completude cada vez que encaro um gesto sincero, como peça obrigatória do meu interminável quebra-cabeça. Fiz de mim uma colecionadora de bons momentos. Guardo os abraços mais fortes e descarto aqueles que foram dados só por conveniência. Se também guardo as besteiras que ouço, é por perceber a importância das confidências que nelas estão implícitas. Tomo como exercício diário me despir de tudo o que me bloqueia. Não coleciono pessoas, coleciono a essência que há nelas. Tenho inúmeros colegas, e agradeço por tê-los, mas faço questão de alguns poucos e bons. A esses aponto como “amigos”! Não escolho a quem oferecer ombro, minha recepção ao “outro” se dará pela conquista. Costumo viver de inteiros. “Intensidade” passou a ser uma constante. Tenho medo de viver padrões, mas pouco me importa viver alguns bonitos clichês. Gosto dos que ousam, dos destemidos e dos que admitem temores. Passei a evitar os fúteis e não substanciais. Passei a sentir mais, a querer mais, a me doar mais, a aprender mais. Reconheço facilmente quem vive de aparências. “Pose” é algo que me causa asco. Não me refugio em qualquer colo. Gosto de olho no olho. Não tenho medo de exposição, falo o que tiver vontade e isso costuma me levar mais leve pra casa no final da tarde. A cabeça junto ao travesseiro é uma recapitulação do que foi o dia. Desfaço nós. Guardo a energia de todos aqueles que me acrescentam. Estou o tempo todo abraçando em pensamento. Gosto de pele, de contato, de apertar bochechas, de brigar brincando. Gosto de crianças e mais ainda de idosos. Gosto dos cinqüentões com espírito de vinte e dos raros dezoitinhos surpreendentemente adultos. Gosto de gente que soma, gosto dos “de verdade”!
Karina Moraes
07/06/2012

Aço, aço, ar.


.


É muito mais do que querer.
É precisar!
É saber que há espaço,
Pro mundo inteiro no abraço.
É insone pernoitar.
Ter medo e ainda assim desafiar
Cada perna, cada passo.
É ter tudo fora do lugar
Disfarçar o gesto falso
Por em ordem pra desorganizar
Todas reviravoltas num só laço
É não cumprir todo o planejar
Seguir dançando no embaraço.

Karina Moraes
18/05/2012

Observadores


.


Os passos são rápidos, apressados pelo atraso. Desaprendemos do trabalho de observação. Inação do “contemplar”. A vista percorre corredores: do metrô, do trabalho, do ônibus, da escola. E as paisagens não se formam. A mecanicidade dos ponteiros marcando as horas compõe angustiante e infindável melodia. Somos escravizados pelo relógio, diariamente! Tornamo-nos imperceptíveis por nós mesmos. Não apercebemo-nos. Não nos deixamos aperceber. Perdemos sorrisos, olhares. Perdemos sons, cores, perfumes e gestos. Cegos pela ânsia de chegar. Quão privilégio deveria reconhecer em si o desenhista, o fotógrafo e ofícios a estes assemelhados, movidos por aquilo que todos os outros permitem morrer com a maioridade: a arte de observar!
Karina Moraes
23/04/2012

Dispersar


.


Eu perdi todas as ideias de texto num momento de lapso de memória e flash de lembrança. Esvairam-se no suspiro... Gosto amargo e doce de nostalgia. Emaranhar de pensamentos das vivências de um outro momento e das doses do agora que conduzem à embriaguez.

21/04/2012

Recepção do desconhecido


.

Estranha recepção do desconhecido, que se esvai em meus abstratos pensamentos... Afigura-se em um “querer”,  mas sem tocar-lhe. Em um “desejar”, mas sem procurar-lhe. Distancia-se em corpo, em copo de abstrações. Desgarra, provoca o indagar. Revela-se em confusas conclusões, de fatores diversos em conjunto... tão longe de agregarem sentido. Desfaz-se em palavras. Palavras apenas. Pequenas, simples, aleatórias. E dóceis! Dócil demais pra conferir entendimento. Apenas, apenas palavras. Desfaz-se em música... Em canções que não são as minhas, mas que me compõem em seus instantes. Quantos turbilhões de devaneios cabem nos breves momentos desfeitos em fugacidades? Decifra-me ou devoro-te? Devoro-te na ânsia de lhe decifrar. 

04/2012 

Pra lhe refugar: um recanto,


.

Um refúgio!

Pra me desencantar, pra me retificar o canto.

Que me refaça em razão, que o rarefeito já não me convém.

Um refúgio! Que me reduza ao riso, mas não me reduza o riso.

Que riscar-te é um risco, que não riscar-te também.


Um refúgio! Que ria de mim e que eu ria do acaso!

Que até refrigere, se assim preciso for.

Que me refreie, mas que me livre do descaso!

Karina Moraes
10/04/2012

...


.

É que aprendemos e desaprendemos tantas e tantas vezes ler aquilo que somos. Descrições só são válidas para personagens paralelos. E ainda assim, serão sempre interpretados de formas distintas, a depender do narrador. Não acredito nisso de onisciência. E os observadores, as vezes me dão medo.

Karina Moraes

Fixação


.

Ser estranho com gosto de néctar. Com gosto de dúvida. Com gosto de veludo. Com gosto de querer. Que me olha. E me olha antes que eu tenha tempo de disfarçar a reciprocidade. Não é minha lentidão em curvar o pescoço na direção contrária mas o momento que, fugaz, se faz hipnótico. Quantas vontades guardam um olhar. Quantas certezas guardam a ressaca da beleza no amanhecer. Segurança tanta que paradoxalmente se esvai ao longo do dia seguinte. Na ausência. Suco de descrença no timbre da voz, no pronunciar que há pouco se fez tão doce e querido. Que nos ápices que alternam ternura e indiferença, me leva a embriaguez. Sem me enraivecer. Por te gostar tanto...

Karina Moraes

02/2012

Que me faz


.

Eu sou mesmo os tantos, tantos ontens que me compõem.

As tantas luas que vi amanhecer sol.

As canetas sem tampa e as borrachas usadas nas escritas a lápis.

O joelho com Gelol.

O mínimo e o ápice.

Os poetas que me acompanham.

A soma das quantas decisões.

As escolhas que em mim se emaranham.

A conseqüência de uso dos sinais verdes, amarelos e vermelhos

...das curvas, dos semáforos.

Sou o que fiz, o que faço e o que refaço de mim.

Karina Moraes

13/02/2012

Fora do ninho.


.

É o cinzento do céu que cobre o egoísmo dos escapamentos e a ganância das chaminés que nos traz galáxia à lucidez, via-láctea. Caminho de leite celeste dos bilhões de vagalumes que um dia apelidaram de estrelas.

Ora, como ousam fumaças me roubarem estrelas?!

Um dia nos disseram que lá, na selva de pedra, não havia aqueles pontinhos brilhantes na abóboda celeste. Pobre diabo este, se esqueceu do compromisso dos vagalumes: se o véu parece negro, é porque estão voando mais alto. Os dias que angustiam em penumbra se revelarão noites futuras de luz.

Êêê apêndice da Capitarrrr! Selva de pedra e pátio de leões. Estrelas tímidas em meio à cortina de neblina. O que restou dos populosos aldeamentos Guaiananes. Somos ainda seus índios Guarus... contraditoriamente de origens diversas. Somos rios que se encontram: Mogi, Embu e Ribeirão. E que deságuam mais fortes...

Em Guarulhos!

Karina Moraes

06/02/2012

Abstrações


.

Opte por viver de forma que cada inspiração absorva os máximos e cada expiração libere os excessos.

Guarde consigo um pôr-do-sol. Enfeite os cabelos com um amanhecer. Transborde no corpo uma cachoeira inteira. Leia uma lua. Troque de lugar a ordem de algumas estrelas. Tateie o término do arco-íris. Bispe o aroma de um maracujá. Adormeça na casca de um pêssego. Pegue carona em um Dente-de-Leão. Banhe-se no espiráculo de uma cachalote. Redirecione as flechas do cupido. Deguste cores. Tempere melodias. Perceba o azedo do açúcar. E o doce do limão. Caminhe tão longe, que não seja possível ir além. Reinvente possibilidades. Reinvente-se.

Karina Moraes
01/01/2012

Twitter @kollim

    Siga-me no Twitter