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No ônibus.


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02 de Agosto de 2011, 12h40, dentro de um destino – que solidifico chamando de ônibus – sentada, como sempre que possível, encostada a janela. Esse quadro transparente que ao longo do meu rotineiro percurso me apresenta o mundo lá fora, paisagens vivas que o olhar abraça em frações de segundos, desvendando o que está além banco e do peito.
Talvez seja isso a vontade comum das pessoas em sentarem-se junto a janela dos ônibus: ligar-se ao mundo através da visão, distraindo o coração de seus medos e suas dores na medida em que este passa a dar atenção ao caminhão que ultrapassa, à pessoa que guia esse caminhão, à árvore que vai ficando para traz, ao anúncio promocional de um outdoor, à modelo de biquíni em um outro, à loja de conveniência de um posto.
Mas eis que o céu despeja gotas primeiras d’água num dia de sol tímido, caem em minha janela, embaçam o vidro e a visão já dificultada reflete apenas os esboços da matéria, o contorno em penumbra de fábricas e autos. O coração já desatento e cansado do mundo lá fora volta a encasular-se e, se por alguns instantes a ocupação era divertir-me com as placas dos automóveis me contando suas origens, agora passa a ser observar percorrer a gotícula que se desfaz em fio de água deslizando pelo vidro. Os contrastes em vibrantes tons verde de mato que a chuva apagou, faz-me esquecer das cidades que aprendi nas placas e com o coração retornar à minha natal, diga-me colega, se há lugar no mundo mais confortador que a casa dos seus velhos? Mas é preciso desgarrar-se, seguir viagem, sempre é breve o momento em que o sol ressurge limpando a janela. Os sonhos orientam a real direção.


/Karina Morais
22/08/2011

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