Archive for novembro 2013

Forma[to]


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Sempre que ouço "me formei em tal escola/universidade" ou "sou formado em x coisa", minha mente instantaneamente parafraseia: "tomei o formato de tal escola/universidade", "tenho o formato de um x coisa", "concluí um processo que me dá um formato específico". Daí que fico imaginando, pra cada pessoa, qual teria sido o molde que a construiu. Há algum tempo a expressão me soa com certa estranheza e me remete a outras que me causam repulsa ainda maior: mecanização/padronização/enquadramento. As instituições educacionais regulares, básicas e superiores, nos acondicionam a determinados métodos que nos tecnicizam compulsoriamente. Mecanizam o pensar, o saber e o criar. Desde o fundamental II, além da oportunidade de estudar, eu tive a oportunidade de escolher onde queria estudar. No terceiro médio, uma prova de vestibular - e só ela - me considerou "lapidada" o suficiente para adentrar um campus universitário. A escolha do [per]curso também foi minha, a escolha que eu continuo fazendo todos os dias. Mas nunca me perguntaram o que eu achava (e acho) dessa coisa de sermos feito água, que se adapta conforme o recipiente ou que segue unidirecionalmente a correnteza. Nunca me perguntaram o que eu acho dessa "forma" do aprender e do desenvolver. Essa loucura de reprodução metodológica, sistemática e aprendizagem seriada. Um formato de ensino que me dará um formato de profissional. Qual é a forma do engenheiro? Do historiador? Do biólogo? Do dentista? Do filósofo? De que molde saímos nós do terceiro médio? E da universidade? E se eu achar que isso tudo tá errado e não seguir as regras limitantes que me impõem, serei eu um "sem formato"? "Form-ação", seria a forma da ação? Dizem por aí que os não diplomados são aqueles sem "[in] formação". Que coisa... Algumas das pessoas que eu mais senti orgulho na vida, nunca souberam o que é um Currículo Lattes. Que sociedade equivocada a nossa, não?
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Karina Moraes
13/11/2013

SP


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De certo que São Paulo é sedutoramente atraente. O cenário é de contrastes e o palco pede luta. As ruas se sufocam de prédios, luzes e autos, o cheiro de chuva rompe o concreto, o cal, o caos e o asfalto, lava os semáforos e se desfaz em reminiscências - pé descalço, "betes", queimada, rouba-bandeira, interior. São Paulo por vezes se mostra impenetrável, dormitando em teimosia, mas talvez seja justamente sua caoticidade o que mais se assemelha com nossas inconstâncias e urgências. A gente vai aprendendo a se gostar, nós da cidade, e a cidade de nós. Há uma crescente nesse lance de pertencimento: a gente se reconhece no corpo social, mas nem sempre esse corpo social se reconhece em nós - tantas são as distâncias. E, assim nos percebendo e dando de cara com os conflitos, anseamos fôlego: jamais trair a responsabilidade de nos aventurarmos nessa ousada vontade de vermos crescerem juntos: o individuo na sociedade, e a sociedade no indivíduo. Quer saber? São Paulo é mesmo um grandalhão carente de abraço!

Karina Morais
(dos escritos não concluídos do caderninho de 2011)

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