De certo que São Paulo é sedutoramente atraente. O cenário é de contrastes e o palco pede luta. As ruas se sufocam de prédios, luzes e autos, o cheiro de chuva rompe o concreto, o cal, o caos e o asfalto, lava os semáforos e se desfaz em reminiscências - pé descalço, "betes", queimada, rouba-bandeira, interior. São Paulo por vezes se mostra impenetrável, dormitando em teimosia, mas talvez seja justamente sua caoticidade o que mais se assemelha com nossas inconstâncias e urgências. A gente vai aprendendo a se gostar, nós da cidade, e a cidade de nós. Há uma crescente nesse lance de pertencimento: a gente se reconhece no corpo social, mas nem sempre esse corpo social se reconhece em nós - tantas são as distâncias. E, assim nos percebendo e dando de cara com os conflitos, anseamos fôlego: jamais trair a responsabilidade de nos aventurarmos nessa ousada vontade de vermos crescerem juntos: o individuo na sociedade, e a sociedade no indivíduo. Quer saber? São Paulo é mesmo um grandalhão carente de abraço!
(dos escritos não concluídos do caderninho de 2011)