Archive for outubro 2013

Vizin.ar


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Mal vejo a cara do meu vizinho de apartamento e, como que naturalizando a bolha, por vezes me deixo esquecer que as fronteiras estão pr'além das paredes. A gente mais percebe o relógio que o pulso, e mais a camisa que a pele. A flor é ainda mais bela, tão porque, menos raro é o asfalto. Os que caem viram estatísticas, e estatísticas são números sem sobrenomes. A gente fica meio que assim, engolindo fogo cruzado e se tatuando de contrastes. A gente se veste de poesia, pra cobrir as vestes dos grilhões sociais. A gente se transveste de amor e caos, só pra parecer que a vida tá normal. A gente luta, labuta, por nós e por um outro, que também somos nós. E dorme com peso na consciência. Pelo tempo que se perde dormindo.

Karina Morais
08/10/2013

Menina


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Quando pequena meu pai dizia que eu tinha olhos de jabuticaba. Pra minha avó eu era sua "indiazinha menina nova". Dias desses ganhei uma pedra azul em um colar, de um amigo que apelidava-me Pocahontas. Sempre gostei de perceber carinhos nas descrições. A cor da minha pele foi manchada com o sangue da escravidão, mas a tua foi tão colonizada quanto a minha. O meu gênero é marcado por algemas morais, mas elas lhe aprisionam tanto quanto eu. Sou mulher, com lábios e nariz mais ou menos finos em uma pele mais ou menos preta, com o cabelo mais ou menos liso, com o corpo mais ou menos magro, mais ou menos gordo, de uma família mais ou menos classe média. Daí você me respeita mais ou menos e faz eu acreditar que o "mais ou menos", pra mim que sou mulher, é muito.

Karina Moraes
13/09/2013

Penas tuas


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Duvida não de mim...
Que no âmago do incerto repousa o inaudito.
E tanto mais, nas entrelinhas até do que não foi dito.
Se queres jogar, desperta-te com meu clarim
Há muitas existências no que silencio.
E mais ainda no eco da minha respiração
...e dos meus suspiros.
Se te contasses tudo, ai ai de mim...
Mandarias definitivamente que eu me fosse,
Ou me tomarias como eterna confidente.
Achas que abuso?
Mal sabes como te privam tuas limitações
Mal sabes as delícias escondidas no vermelho da maçã
...e do batom.
Outrora quisera eu relatar-te minhas desventuras
Hoje repousam elas em gavetas empoeiradas
Os desequilíbrios de antanho, hoje bailam em fomes de novidades
O transcendental habita também Afrodite e Dionísio
Feliz de ti romper com teus serafins e moralidades
Hoje minhas insônias repousam em vinho tinto.
E se meus impulsos tiver cor... vestir-se-á em rubro manto.

Karina Moraes
25/09/2013

11 de setembro de 2013


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04h58 da manhã. A lua vai se despijamando e devagarzinho se encobrindo em vestes de sol. A lâmpada da minha sala vai perdendo o sentido de continuar acesa. Os meus óculos? Ahhh... estes acompanharam toda a transição!



Karina Moraes

11/09/2013

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