Archive for agosto 2014

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Amo e odeio a cidade, concomitantemente, o tempo todo. Tenho me percebido num estilo de vida que gosto, mas que questiono. Parece incessante a busca pelo preenchimento do tempo. Não sei o que é simplesmente "estar", sem essa coisa frenética de me perder em calendário, relógio e continuar achando que ainda é pouco, que eu poderia e deveria fazer mais. Depois usar tudo isso de pretexto pra me transbordar em alguns outros excessos. A gente se adapta à caoticidade e adota um estilo de vida tão caótico quanto. Na real, também não sei se tô afim de uma outra postura frente a isso. E não sei se é por gostar que seja assim, ou se é por simplesmente não estar disposta a encarar mais uma luta de readequação. Tudo o que faço me é claro de sentido e razões. Tudo! Em contrapartida, nem sempre sei elencar prioridades, não sei dosar o dispêndio de energia pra isso ou pr'aquilo. Essa coisa de "deixar tudo fluir" tem me enjoado, preciso saber pra onde corre o fluxo da maré e o que eu espero da correnteza. Tenho considerável dificuldade em tomar decisões, mas sou verdadeiramente segura comigo mesma e isso me faz crer que devo ter tudo sob controle, em absoluto, que é pra não titubear. Exceto pra um lado místico que ainda procuro conhecer, abstração definitivamente não é meu forte. Prefiro a praticidade e objetividade das coisas. Indefinições me cansam, em todos os aspectos, embora reconheça que por vezes seja eu a procrastinar as definições. Parece confuso, é confuso pra mim também. E assim seguimos bailando nossas próprias contradições, amores e desamores, com a cidade, com os sujeitos que nos compõem, com o tempo.

Karina Morais
26/08/2014


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A  gente se limita pra se poupar, e se poupando se sabota.
Malditas minúcias que se sufocam nos receios e minguam antes de experienciar a lua cheia.

"Eu gosto mesmo é de vida real"


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Não tenho tempo pra mundo imaginário. Durmo tarde mas não sofro de insônia e nunca sofri, os dias são sempre corridos e cheios de gente, não sobra muito espaço pra flertar com abstrações. Parece clichê mas prezo mesmo pelo aqui, pelo agora, por pessoas e acontecimentos reais, pela clareza e praticidade das coisas. Só trabalho com suposições em trabalhos acadêmicos. Minhas saudades são muitas e intensas, mas facilmente controláveis. Digo o mesmo às preocupações. Acho que, de todos os aspectos da vida, me sensibilizo mais com crianças, idosos e cachorros. Não tenho muito dom pra construir novelas mentais e ainda menos pra suprir expectativas pras novelas que o mundo quer que nos encaixemos. O que tiver que acontecer, acontece e ponto. Há madrugadas em que eu até queria conversar mais com os lençóis antes de adormecer, pra conseguir visualizar certos pensamentos bonitos que por vezes me acometem de surpresa. Mas meu travesseiro é um convite ao sono e antes que os quadros se formem eu já me anoiteci.

Karina Morais
07/2014

1ª Pessoa do Singular


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Desde que me reconheci enquanto sujeito social que – como todos os sujeitos sociais – porta capacidade de articulação política, busco pensar em como se projeta cada uma de minhas ações e perceber como são construídas as opiniões, minhas e daqueles que me cercam. Desde que me reconheci enquanto sujeito político-social, minha vida é constante desconstrução e reconstrução e tô o tempo todo me policiando quanto a esses nivelamentos. A diferença é que hoje eu sou segura o suficiente pra conseguir afirmar determinados posicionamentos que em um outro momento eu recearia falar, e a não ignorar aspectos da sociedade que talvez eu ignorasse por escolher ignorar. Eu respiro e vivo em função de uma identidade ideológica seguramente definida que, não obstante, frequentemente se coloca em conflito com tudo o que um dia me ensinaram e me doutrinaram a acreditar (por também se tratar das ideologias que perseguiam).

Repare que eu não tô falando apenas de objetivos. Objetivos eu os tenho (e me conforta tê-los) mas, aqui, digo mesmo é de ideologias! Tem noção do quanto isso é forte, meu caro? São elas que me norteiam e são a elas que eu me agarro quando a fé é pouca. A fé em mim mesma, saca? São elas que não me deixam renunciar tanta coisa que me faria oscilar e são a elas que canalizo toda energia quando a fonte parece secar e a apatia toma conta de tantas outras questões da vida em sociedade. Confesso que, dado o sistema em que estamos inseridos, isso é um bocado angustiante: falta braço e tempo. A gente queria mesmo é abraçar o mundo! Fôlego tem, e perna tem também (ainda que por vezes nos convençamos do contrário)! Sabe, só queria registrar que tenho me sentido bastante empolgada com a atuação política. Não é lá nenhuma novidade, mas eu tô mesmo num momento enérgico pra isso. Tenho me deparado com ideias novas e com pessoas lindas – de coração e de luta – que se somam no caminho.

Muito tem me estimulado levantar a bandeira pelo plebiscito popular a favor de uma reforma do sistema político. Muito me estimula integrar um Coletivo que confio e que ajudo a construir. Muito me estimula estarmos trabalhando – dentro desse mesmo Coletivo – junto às escolas públicas e debater política com uma garotada que talvez jamais se interessasse por isso. Muito me estimula estar na luta feminista e encontrar mulheres maravilhosas dispostas a levar a frente ideias de ações em prol da igualdade de gênero em todas as instâncias. Sabe, minhas fomes político ideológicas crescem vertiginosamente e se mostram insaciáveis. Eu gosto disso. Na real, na real, eu só precisava escrever que eu tô feliz por estar incentivada. Não com as conjunturas atuais, mas por me sentir útil àquilo que persigo, sem precisar de holofotes. Eu preciso contar que eu tô estimulada, que é pra eu lembrar depois, naqueles momentos que a gente tem vontade de jogar tudo pro alto e vestir logo o discurso derrotista. Eu não nego as minhas inconstâncias e eu tenho ciência que o otimismo de hoje pode não ser o de amanhã. Isso me dá medo às vezes, mas política é quebrar a cara também, porque o mundo é torto e a gente precisa aprender a ter jogo de cintura, que é pra não enlouquecer... mais.

Karina Morais
12/08/2014

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