Archive for julho 2011

Pingente-vida


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"Viva a vida mais leve, não deixe que ela escorregue, que te cause mais dor (...) e amanheça brilhando mais forte que a estrela do norte!"


Já repararam como definir determinados momentos bons é especialmente complicado? Digo "especialmente" porque essa dificuldade vem acompanhada de um gostinho de copo cheio, embriaguez causada pela vida que, por vezes, corre nos lembrar de sua efemeridade, servindo de alerta aos corpos cansados.

Talvez esse seja mais um papo clichê mas, meu amigo, me diga se não é o próprio homem o maior dos clichês? Somos essa coisa toda que dizem de nós e que repetimos de quem disse, mesmo sem pretensões de plágio. É que ao se tratar de uma abordagem genérica, poxa, nos conhecemos absurdamente bem, ficando, conseqüentemente, vulneráveis a definições iguais. Mas alguém disse que isso é ruim?

Alguns instantes se revelam detentores de um poder tão grande que mal percebemos a hipnótica situação em que nos encontramos, tamanha é nossa atenção a tais momentos, quadros que se dispõem aos nossos olhos tal qual nos faz desenvolver inexplicável gula por coisas abstratas, digo, engolir sensações e energias que sentimos, com uma imensa ansiedade explicada pelo imperceptível medo que temos de sentir por alguns instantes a ventura em ter a vida nas mãos e deixar escorrer por entre os dedos. É difícil segurar coisas raras e delicadas sem quebrar ou arranhar. Vem então aquele nó na garganta da ansiedade presa no esôfago da vontade que grita em nós de dar um jeito de dizer a essa coisa que está ali, nas mãos, que estamos chamando de vida, pra não ir embora, pra ficar ali, intensa, vibrante, colorida, radiante. Dá vontade de fazer dela algo palpável e colocarmos logo um chaveiro pra grudar no cós da calça e quando mudar de calça, colocar esse chaveiro na bolsa ou, sei lá, qualquer adereço junto ao corpo, intencionalmente deixando muito, muito visível, estando sempre diante de nossos olhos de forma a nos lembrar do nosso compromisso de cuidar, de amar essa coisa. Essa coisa que não é concreta, que não é um chaveiro, muito menos "coisa". Isso que eu chamo de vida, não na sua comum denominação substantiva, mas adjetivando: tô falando de VIDA, ENTENDE?!

Tento narrar um encontro interior, um encontro da alma, aquele que lhe dá um tapa na face fazendo abrir mais as pálpebras e enxergar um amor por vezes tímido que periodicamente escapa de um bolso meio furado e desbotado, pondo-se agitado por toda nossa pele, meu amigo, estou tentando explicar essa nossa capacidade em redescobrir muitas e muitas vezes a paixão pela vida!




/Karina Moraes
(23.07.2011)

Gizé


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De certo que pirâmides em ruínas, reduzidas a escombros devido às intempéries do tempo, possuem mais poesia que o momento de suas gloriosas edificações. Apercepções de devastações assinalam a passagem do tempo, bem como suas marcas, incrustações reminiscentes dos valores resultantes de outrora. Embora assolada, faz-se intermédio de lembranças dos períodos de auge. Antíteses: revivências de um passado morto. Eis que as histórias que nos compõem desmoronam-se em nós mesmos: nada que possa ressurgir está definitivamente enterrado. Nenhum passado é morto, a capacidade humana de LEMBRAR nos prova isso. Legitima a vivacidade de fronteiras que jamais foram concretamente superadas, embora concluídas tantas travessias. Revive! Aproxima o pretérito do presente num constante jogo de evidências de antanho. Sensações ora amenizadas, ora vingadas no arrepio tegumentar. Mas avante! Continuemos a caminhada, cientes da coexistência dos desconcertos vitais de outros tempos junto a um olhar positivo rumo ao infinito. Não é inteligente desprezar o passado. Mantenha-se, se direcione, a calçada é longa e nem toda estrada é pavimentada.


/Karina Moraes
(05.07.2011)

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