Archive for janeiro 2013

Véio não!


.



Ai daquele que nos disser que gente velha se mede por idade! Desapego às falsas moralidades, desapego à neurose da louça sempre impecável, desapego aos pudores. Aprendo e ensino a exercitar a jovialidade com quem me resguardo sob o mesmo teto. Optamos pela antioxidação do tempo, para não nos tornarmos arquivos de metal passíveis apenas de armazenamento das informações diárias. Despimo-nos de tantas formalidades e isso nos faz respirar mais a vida e menos os aborrecimentos. Em uma noite qualquer, optamos por deixar as portas abertas pra que outros risos se somem aos nossos. Não convidamos números: convidamos as mesmas frequencias, os mesmos ritmos, mas uma variedade de notas, pra que não faltem acordes em nossas melodias não ensaiadas. Estreitamos laços; aumentamos a música e cantamos em voz alta a fim de isolarmo-nos dos sons externos da caótica monotonia urbana. O desconhecido não nos causa medo, nos causa curiosidade! Humanizamo-nos mais em relação ao próximo, filosofamos com os bêbados da rua sem receio ou repúdio. Permitimo-nos gargalhar aleatoriamente e sem ressalvas, por entendermos que as espontaneidades são mais sinceras que as poses. 
        É por isso que nos planos de futuro se desenha uma placa com letras neòn: Xô síndrome de velho, que aqui não tem espaço pra você! Já disse ao meu médico, na bula do meu remédio agora só leio Arnaldo Antunes: "eu quero é viver pra ver qual é, e dizer venha pra o que vai acontecer! Eu quero que o tapete voe no meio da sala de estar"!
Calúnia contra a vida culpar o tempo por nosso envelhecimento! A tal da velhice... coisa que só chega em razão da maldita e inevitável mecanicidade que nos sujeitamos ao atingir a “fase” adulta. A rotina cada vez mais nos acondiciona aos ponteiros do relógio, robotizando-nos. Desaprendemos a sermos jovens e nos deixamos enferrujar. O estresse urbano passa a estar tão contido em nossas veias que a intolerância não cede espaço às ousadias menos costumeiras. Deixamos o espírito adormecer ao que foge à rotina, e então nossos ombros passam a pesar mais que o normal. Nossa vitalidade se perde na medida em que nossos lábios se enrijecem e a mente se desgasta mais rápido que a pele. Já dizia Cecília Meireles querer "segurar a juventude" e "prender o tempo na mão". Eu digo que coleciono a juventude e o tempo, nas rugas que um dia marcarão minhas mãos! Intolerável é render-se a si mesmo quando o eu se acomoda na desculpa do cansaço.

Karina Moraes
10/01/2012

Twitter @kollim

    Siga-me no Twitter