Quando
pequena meu pai dizia que eu tinha olhos de jabuticaba. Pra minha avó eu era
sua "indiazinha menina nova". Dias desses ganhei uma pedra azul em um
colar, de um amigo que apelidava-me Pocahontas. Sempre gostei de perceber
carinhos nas descrições. A cor da minha pele foi manchada com o sangue da
escravidão, mas a tua foi tão colonizada quanto a minha. O meu gênero é marcado
por algemas morais, mas elas lhe aprisionam tanto
quanto eu. Sou mulher, com lábios e nariz mais ou menos finos em uma pele mais
ou menos preta, com o cabelo mais ou menos liso, com o corpo mais ou menos
magro, mais ou menos gordo, de uma família mais ou menos classe média. Daí você
me respeita mais ou menos e faz eu acreditar que o "mais ou menos",
pra mim que sou mulher, é muito.
Karina Moraes
13/09/2013