Mal vejo a
cara do meu vizinho de apartamento e, como que naturalizando a bolha, por vezes
me deixo esquecer que as fronteiras estão pr'além das paredes. A gente mais
percebe o relógio que o pulso, e mais a camisa que a pele. A flor é ainda mais
bela, tão porque, menos raro é o asfalto. Os que caem viram estatísticas, e
estatísticas são números sem sobrenomes. A gente fica meio que assim, engolindo fogo
cruzado e se tatuando de contrastes. A gente se veste de poesia, pra cobrir as
vestes dos grilhões sociais. A gente se transveste de amor e caos, só pra
parecer que a vida tá normal. A gente luta, labuta, por nós e por um outro, que
também somos nós. E dorme com peso na consciência. Pelo tempo que se perde
dormindo.
Karina
Morais
08/10/2013