Abstand


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Ao depararmos com mudanças radicais em nosso estilo de vida, comumente buscamos formas de nos agarrar a detalhes que nos mantenham ligados ao que amanhã será passado. O ingresso do cinema na agenda. Um rabisco qualquer de um colega, na última folha do caderno. Mil papeizinhos amassados envelhecendo no armário. Etiquetas do camarote. Pulseirinhas de praia, que todo mundo usava. Livros que nunca mais serão abertos. Apostilas que ficarão na estante.

E assim tantas coisinhas bobas se tornam de estima, numa incessante tentativa de guardar e manter algo palpável de momentos bons. Buscando aproximar o ontem do agora, e o agora do amanhã, já prevendo a distância que um dia se estabelecerá entre tudo isso. Uma prova inequívoca de nossa fragilidade na condição de humanos se traduzirá a nós quando reconhecermos um perfume ou uma voz que certamente o tempo nos fará esquecer. E acostumarmos com o esquecimento. Um sentimento de urgência em reencontrar velhos amigos e trazer à lucidez fatos nítidos de outros tempos tomará conta de nós. Vai ser doce. Mas tão amargo...

Notaremos que nunca mais seremos os mesmos. E a vida prosseguirá em seus ciclos. A vida, composta por tantas várias vidas. Tantos inícios, meios e fins.


/Karina Moraes
(19.02.2011)

One Response to “Abstand”

  1. Anônimo says:

    É verdade Karina, depois de ler o seu texto fico me vendo nesse gesto de guardar o passado com tanto rigor, com tanta estima. E nunca seremos os mesmos. Olhos essas coisinhas que ficam, cartas, bilhetes, e enfeites e vejo como eu era e não sou mais. Mas tudo isso fez parte. De um ciclo que recomeça. E nem percebemos.

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