Ela quis escrever qualquer coisa que definisse o papel do "eu" no tempo. Não sabia bem se era ela que mudava o tempo, ou se era o tempo que mudava ela. Sabia que existia alguma relação muito estreita nisso tudo, mas estava mesmo é de saco cheio dessas reflexões com as ordens das palavras. Ou com preguiça, talvez. Fotografou a luz e correu sob o chá. Em suas fotografias a luz virou uma estação de trem e o chá se transformara num viaduto. E nesse jogo de alusões, o lúdico logo se transfigurava em asfalto e concreto. De cima de um arranha-céu, teve exatos cinco minutos pra cair na real: faltava crescer ainda um pouquinho mais pra que o céu se deixasse arranhar. Tentou com os olhos destampar o Tamanduateí e pintar as lavadeiras da Várzea do Carmo. Tamanha pretensão, o cair da tarde levara as lavadeiras embora. A Várzea já não estava lá e o Tamanduateí também não. Nas fotografias? O saudosismo. E a força do tempo com o próprio tempo. 18h15. Onde estava mesmo o bilhete do metrô?!
Karina
Moraes
31/03/2013